Animação Cultural

 A seguir, a partir de um trecho da Animação Cultural, de Flusser, insiro o meu copo da postagem passada para participar da Declaração dos Direitos Objetivos, na forma de um diálogo com a mesa-redonda e os demais objetos.

“Permitam que justifique, antes de mais nada, a escolha da minha própria pessoa como presidente do nosso grupo. Enquanto Mesa-redonda sou objeto equilibrado. Assento firmemente, com meus quatro pés, sobre o solo da realidade. Permito, graças a minha circularidade, que todos os participantes assumam posições equivalentes e equidistantes. Centralize espontaneamente os debates. E sou consagrada pela tradição pré-objetiva. Se algum dos participantes tiver objeção contra minha escolha, que se manifeste por movimento não-programado.”

Acredito que a senhora mesa esteja equivocada, ou simplesmente se recusa a enxergar a realidade bem acima de seu tampo. Talvez por ser tão voluptuosa, queira enxergar apenas as demandas ao seu redor, nós os pequenos objetos que ficamos acima dela não temos posições equivalentes ou equidistantes, muito pelo contrário, fazemos parte de uma grande desigualdade aqui em cima. Eu, na condição de copo, já vi diversos irmãos despencarem daqui de cima e nunca mais voltarem graças ao mau-uso humano. Assim me pergunto: a mesa-redonda já se mobilizou por algum objeto daqui de cima? Canetas? Vasos de planta? Considero esse silêncio uma ótima resposta, a mesa é um objeto muito estável, e recebe tratamento muito digno dos humanos. Se derramo água ou suco, logo vem alguém para limpá-la e deixá-la como nova. Nós, os copos que trincam e amassam, os cadernos que rasgam e as canetas que são “mordidas” devemos tomar a frente dessa revolução, sofremos de insalubridade no exercício de nossas funções.

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